LEITURA DA SEMANA: COMO PODE UMA CHUVA DE ESTRELAS DEIXAR A NOITE MAIS ESCURA?
Stela Battaglia.
Ilustrações de Roberto Weigand.
Sowilo Editora. 2021
Entre tantos livros especiais lidos nos últimos meses, difícil escolher o primeiro para retomar minhas Leituras da Semana. Foi quando li uma entrevista do sociólogo francês Edgar Morin na Revista Prosa Verso e Arte (2019) em que ele afirma ser preciso “educar para a paz para resistirmos ao espírito da guerra”, especialmente quando vivemos uma “onda generalizada de retrocessos, uma crise generalizada de democracia em muitos países”.
Hoje, em meio a tantos desafios – pandemia, recrudescimento de fanatismos, intolerância e brutalidade, etc. – assistimos também, em tempo real, aos horrores da guerra na Ucrânia. Diante de fatos que ameaçam concretamente a humanidade e a vida no planeta, a frase dita por Morin insistia em voltar e me fazer pensar sobre a importância da literatura dirigida a crianças que trata de temas polêmicos – questão que me ocupa há tempos.
Penso especialmente em livros que abordam temas difíceis, dolorosos, que apresentam personagens (crianças, muitas vezes) em situação de vulnerabilidade, vivendo experiências desafiadoras como, por exemplo, a guerra.
É o caso de “Como pode uma chuva de estrelas deixar a noite mais escura?” que, já em seu título , nos faz uma pergunta inesperada, cuja resposta será impactante.
O livro começa:
“Um telescópio?!”
Os pais se espantam com o pedido do menino que gostava de olhar o céu à noite, quando estavam juntos e a vida seguia e era boa.
Em seu aniversário de seis anos, o menino que gostava das estrelas fica contente ao ver a mãe costurar uma estrela amarela em sua blusa. Mas o tempo passa, deixando a noite cada vez mais escura... Com o desenrolar dos acontecimentos, as estrelas ganham novos sentidos, construídos pelo olhar ingênuo e ao mesmo tempo assombrado do menino que nos conta sua história, especialmente o período passado em um campo de concentração.
“Levaram a gente para um lugar novo, onde mamãe e eu ficamos separados de papai. Foi aí que notei: todos ali carregavam o mesmo distintivo, tinham estrelas amarelas. Parecia que havia caído uma chuva de estrelas. Mas também reparei que muitos homens com uniformes tinham aranhas em suas roupas. Pensei então: Por que as pessoas com estrelas estão sendo separadas após as ordens das pessoas com aranhas? São dois times? Para fazer o quê?”
A vivência da experiência terrível marca profundamente, mas não elimina a esperança, os afetos e a crença na força e beleza da vida que se reconstrói, apesar da dor. Neste belo livro, texto e ilustrações se articulam para narrar uma história impactante e, ao mesmo tempo, delicada e sensível, que oferece diferentes possibilidades de leitura ao abordar um tema desafiador.
Em tempos de conflitos ou em tempos de paz, encontrar livros que não subestimam o leitor ao falar da fabulosa e incerta aventura humana – com suas alegrias, dramas e mudanças – pode fazer a diferença na vida de crianças (e adultos) em qualquer tempo e lugar.
Por Maria Silvia Pires Oberg, via Facebook.
Fonte: https://m.facebook.com/story.php?story_fbid=4977394005654518&id=100001519044876&sfnsn=wiwspwa